segunda-feira, 6 de outubro de 2008

 

E um dia hei de entender...

São dezoito horas e dezessete minutos. Ele acaba de chegar a sua residência que um dia foi abrigo de ambos. Sim! De ambos, pois seria o primeiro dia sem encontrá-la depois de três anos, quatro meses e vinte e um dias juntos. A relação estava desgastada. As brigas consumaram tudo o que sentiam de mais lindo e prazeroso. Ele estava conformado com a situação. Estava? Pelo fato de não abrir a porta e ouvir um “ lazarento, estás atrasado de novo? “, sim. Ele estava conformado.
Hora da prática do primeiro dia sozinho. Após ir tomar banho sem o banheiro estar parecendo uma sauna (ela ficava horas na ducha, embaçando o espelho, gastava quase um sabonete ao dia), colocou a mesa para o jantar. Inconscientemente, reparara que tinha colocado dois pratos na mesa ao invés de um. Idiota! Não eu, ela! E mais ainda, meu subconsciente é tão idiota quanto, pois pensa que com essa situação irá fazer-me lembrar do seu olhar quando estávamos lado a lado, quando a elogiava pelo maravilhoso tempero, do dengo que ela fazia quando pedia mais um pedaço de bife. Affffff! Já passou, deixa pra lá!
Depois de por a mesa, de guardar o prato sobressalente, o momento é ligar para a pizzaria, afinal, não sabia nem descascar um alho. Hora de procurar o folheto. Folheto, yu-huuu? Onde estás? Aqui! O número é...
Para surpresa dele, o número foi recortado. E mais que isso, dentro deste, um bilhete que dizia:
_ Sabia que irias procurar este folheto, seu terrorista! Quer realmente o número para não morrer de fome? Ligue-me!
Estava decidido. Preferia morrer de fome a ligar para ela. Passo seguinte: hora do futebol!
Ahhhhh! Que poltrona maravilhosa! E maravilhosa também era ela com aquela camisola linda, verde, pois dizia ser palmeirense até ao dormir. E em todo jogo Palmeiras x São Paulo, a gozação quando seu time vencia. Mas isso acabou! Liberdade, fraternidade e prosperidade! I´m a free man! Uma vez solteiro, sempre solteiro! Não há coisa melhor neste mundo!
O jogo irá começar! O controle remoto está na mão. Só um mero aperto de botão e o espetáculo começará. Um aperto, dois, três, quatorze! Que diabos acontece com esse controle?
Eis que ao abrir a tampa do controle remoto, onde deveria encontrar pilhas, nada mais que um pedaço de papel e só. “Era só o que me faltava”, resmungou. E no papel, mais uma frase escrita que dizia:

_ Levei as pilhas porque foram com meu dinheiro! Queres ver TV decentemente? Então a mantenha! Ou podes simplesmente ligar me utilizando a palavra “ por favor “ que pensarei no seu caso!

Um grande momento de silêncio, e após isso:

_ VAAAAAAAACAAAAAAAAAAAAAAAA!
“Desgraçada! Pensa que darei o braço a torcer? De jeito nenhum! Por isso que brigávamos toda hora! Ela sempre queria que dissesse que a amava, que não viveria sem ela e blá, blá, blá! Até parece! Já estou me sentindo bem melhor sem ela. Nada como uma cervejinha a noite para curar dores deste tipo!
Foi de encontro à geladeira. Lá estava ela! A consoladora dos homens nos momentos de maiores aflições amorosas! Grande cerveja! A felicidade em um movimento de abertura daquele anel de alumínio. Fez-se então o movimento sagrado, a abertura! Levou-a a boca, mas peraí? Cadê a cerveja? A lata estava vazia! Mas como? Eu acabei de abrir!
Foi quando ele observou que na abertura que o anel causara na lata, tinha mais um furo, só que no fundo.
_ Ela não fez isso! Ela não teria coragem de fazer isso com as onze latas de cerveja que tenho aqui – pensou. Pena que estava errado quanto a audácia da ex-companheira.
_ Bem, o que resta é dormir! Pelo menos a cama estava arrumada! Cama maravilhosa, aconchegante. Novamente brigaríamos pelo cobertor, se encararíamos como todo dia, o coração bateria mais forte, aquele perfume maravilhoso! Nãããããão! Isso acabou! Sou livre, leve e solto! Chega de lembrar desta insolente. Humpft!
O sono estava chegando. As pálpebras pesadas. Tudo indo as mil maravilhas, até que algo fazia-o lembrar dela novamente. Mas o quê? Pelo que ele observou, não tinha mais nada dela no quarto, nada! Exceto o ................. cheiro do perfume dela! O cobertor, o colchão, o travesseiro! Essa infeliz deve ter comprado mais três frascos para fazer esse serviço!
As lágrimas chegaram. Ele não estava mais suportando a idéia de ficar só! Mas também não suportaria a idéia de pedir perdão e dizer que a amava! Continuaria irredutível! Pelo menos, ela deixou o porta-retrato que continha a foto da primeira ida ao parque deles. Isso era algo que poderia amenizar a saudade que tanto sentia por ela. Mas quando verificou, nada mais, nada menos que a foto de sua secretária, e colocado estrategicamente abaixo, mais um bilhete:

“ Talvez essa seja a mulher da sua vida! Se não for, tens meu número! Saberás o que fazer!”
Novamente, mais um súbito momento de silêncio, e então:

_ DESISTOOOOOOOOOOOOOOOO! EU TE AMOOOOO! SUA MEGERA MANIPULADORA DOS INFERNOSSSS!

Ele pegou o celular, discou, contando os toques, e repetindo “ atenda, atenda!” Quando uma voz masculina respondeu:
_ Alô?
_ Ei! Eu quero falar com minha mulher!
_ Ela não te disse?
_ Não! Tu és um caso dela? Eu sabia! E eu que era o vilão da história, farei picadinho de vocês dois e ...
_ Sou o advogado dela.
_ Advogado?
_ Sim, ela disse que ligarias. A audiência já está marcada. Tu a receberás em sua casa em até cinco dias úteis. Passar bem. Tu-tu-tu-tu-tu-tu...

As lágrimas começaram a rolar. Ele tinha a mulher que sempre quis em suas mãos e a deixara ir. Não se perdoaria jamais! Faria o necessário. Era só um “Eu te amo“ que ela queria ouvir? Pois bem, ela terá serviço completo! Helicóptero com flores sendo arremessadas! Cartazes por todo o bairro! Cesta de café da manhã todo dia! Iria ao inferno e pintaria-o todo de rosa se fosse necessário, e ...

_ Em Brasília, seis horas! – Era o rádio relógio o acordando para ir trabalhar.
Ele acordou! Era apenas um sonho! O amor de sua vida estava ao seu lado. Nada disso acontecera! Sentiu-se como se tivesse uma segunda chance! Faria tudo para fazê-la feliz! Diria que a amava quantas vezes fosse necessário! Yupiiiiii!
_ Amor? – Ele disse.
_ Hein? – Ela respondeu.
_ Sabias que te amo, e que és tudo pra mim?
_ Ai, ai, ai, ai! Nunca me disseste isso. O que fizeste de errado, hein? Aposto que tens uma amante. Aposto que é pretexto para abandonar-me. É uma arapuca, não é? Volta aqui...
E lá se vai mais um dia, com a pergunta que nunca se calará: Um dia, será que entenderei minha mulher?

Comentários:
Ela é Palmeirense, logo tudo pode.. hauhuaa
 
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